segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Um Pouco de Cultura




William Blake nasceu em Londres no dia 28 de novembro, no ano de 1757. Filho de comerciante, desde a infância ajudava na loja de seu pai e entregava-se à leitura e ao desenho nas horas vagas. Lia Paracelso, Jakob Boheme, Swedenborg e outros. Nesta época, o jovem Blake já dava sinais do imenso potencial artístico que desenvolveria no decorrer de sua vida.

O jovem Blake recebeu influência intelectual de seu irmão mais velho Robert, que morreu aos vinte anos vitimado pela tuberculose. Nesta época, dizia ter visto a alma de seu irmão ascendendo ao céu. Aos dez anos de idade, afirmava ver e se comunicar com anjos. A crença no mundo espiritual iria acompanhá-lo por toda vida e influir diretamente no misticismo de sua obra.

Pouco tempo depois, foi matriculado na "Royal Academy of Arts", onde aprendeu os estilos convencionais de gravura. Aos catorze anos tornou-se aprendiz de James Basire; função que exerceu por sete anos. Aos dezesseis, passou a se dedicar intensamente no estudo e reprodução gráfica das catedrais londrinas; especialmente a Abadia de Westminster, cujo estilo gótico fascinou o jovem artista. Ainda desenvolveu uma técnica própria de gravação, denominada Illuminated Printing; onde utilizava-se uma mesma matriz de cobre para desenhar e imprimir o texto de seus poemas.

Aos vinte e cinco anos, casou-se com Catherine Boucher; analfabeta e filha de jardineiro. Este matrimônio não rendeu filhos ao casal. Mas Blake ensinou sua esposa a ler, escrever e a ajudá-lo nas impressões das gravuras. A partir de 1784, publicou largamente suas obras até cerca de 1803. Neste período, caracterizou-se a parcela mais importante de toda sua produção literária. Alguns títulos como The Book of Thel, seguido de The French Revolution (1791), e The Marriage of Heaven and Hell (1793), denotam o apogeu de sua criação. Este último é considerado a obra em prosa mais significativa de sua vida, cujo título deriva de Swedenborg e contém a Doutrina dos contrários; onde o autor em tom profético e misterioso, afirma: "sem contrários não há progresso". Em Visions of the Daughters of Albion (1793), Blake expressa mais uma opinião polêmica para seu tempo. Nesta obra, o autor afirma que os prazeres sexuais são sagrados e através destes, se alcança um novo estágio de pureza: a inocência.

Em 1794, Blake passou a interagir com mais intensidade seus grandes talentos: a poesia e a pintura. Assim, The Gates of Paradise, Song of Experience and of Innocence representavam uma fase distinta de sua criação; onde as ilustrações e as palavras compunham uma obra única. Segundo o autor, manifestam "lados contrários da alma humana". Blake também prestava seu talento ilustrando obras de seus amigos.

Por um certo tempo, o poeta sustentou-se exclusivamente com os ganhos de suas publicações. Mas, vivia a beira da pobreza. Os livros não tinham uma vendagem expressiva e eram muito baratos. A partir de 1803, integrou uma sociedade comercial de tipografia na Broad Street, 27. Lesado pelo sócio, Blake atravessou o momento financeiro mais conturbado de sua vida. O poeta só viria a se estabelecer novamente em 1809, quando promoveu uma exposição das próprias obras. Mas não houve o retorno esperado.

O período entre 1810 e 1817, é considerado um momento obscuro em sua vida; onde Blake passa a ilustrar catálogos de fábrica de porcelanas. Em 1824, aos 67 anos de idade, iniciou as ilustrações para Inferno, da Divina Comédia (Dante). Sua dedicação foi tanta que até mesmo estudou o idioma italiano para compreender profundamente as idéias de Dante, chegando a produzir mais de cem ilustrações. No ano seguinte fez mais de vinte gravuras para Book of Job, uma de suas obras artísticas mais célebres.

A fase final de Blake é essencialmente mística. Seus poemas de atmosfera épica-proféticas como The Four Zoas, Milton, The Everlasting Gospel e Jerusalém, são complexas mitologias poéticas onde anuncia a redenção humana em uma "nova Jerusalém". Neste período, Blake já era visto como louco; mas ainda compôs obras líricas e herméticas como o Auguries of Innocence. Os versos iniciais deste trabalho sintetizam a grandeza de seu pensamento: To see a World in a Grain of Sand / and a Heaven in a Wild Flower (Ver um mundo num grão de areia / e o céu numa flor silvestre).

Embora religioso, Blake rejeitava a moral da época e a Igreja institucionalizada. Ainda desenvolveu uma linguagem própria e é um dos responsáveis diretos pelo ressurgimento do romantismo inglês. Não é possível dissociar o poeta e o pintor, já que sua obra é uma composição única, onde suas atividades artísticas somadas à intelectualidade contestadora, compõem um universo pessoal. Talvez por esse motivo, a grandeza de William Blake não foi compreendida por seus contemporâneos e ainda hoje, não é vista com o devido merecimento.

William Blake faleceu em Londres, em 12 de agosto de 1827; deixando incompleto um ciclo de gravuras que ilustrariam a Divina Comédia, de Dante. A grande maioria das chapas de cobre gravadas por Blake, foi destruída por Catherine, atendendo ao pedido do marido. Catherine morreu quatro anos depois.


Segue agora abaixo um trecho do livro de Blake, "Matrimônio entre o Céu e o Inferno"

Quando vim para casa, no abismo dos cinco sentidos,onde uma escarpa achatada franze as sobrancelhas para o
mundo presente, vi um Demônio poderoso envolvido em negras nuvens, flutuando pelos lados da rocha; com fogos corrosivos, ele escreveu a seguinte sentença, agora percebida pelas mentes dos homens e lida por eles na Terra:
Como você poderia saber que cada Pássaro que corta a estrada dos ares E um imenso mundo de deleite, bloqueado por seus cinco sentidos? Na semeadura aprenda, na colheita ensine, no inverno desfrute. Guie sua carroça e seu arado sobre os ossos dos mortos. A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria. A prudência é uma velha donzela feia cortejada pela Incapacidade. Quem deseja, mas não age, gera a pestilência. A
minhoca cortada perdoa o arado. Mergulha no rio quem ama a água. Um tolo não vê a mesma árvore vista por um sábio.
Aquele cuja face não tem luz nunca se tornará uma estrela. A eternidade está apaixonada pelas produções do tempo. A abelha ocupada não tem tempo para a tristeza. As horas de tolice são medidas pelo relógio, mas as de sabedoria, nenhum relógio pode medir.
Toda comida saudável é apanhada sem rede ou arapuca. Ressalte os números de peso e medida em um ano de
escassez. Nenhum pássaro voa alto demais, se voa com as próprias asas. Um corpo morto não se vinga de ofensas. O mais sublime ato é pôr outro antes de você. Se o tolo persistisse em sua tolice, ele se tornaria sábio. A tolice é o disfarce da patifaria. A Vergonha é o disfarce do Orgulho. AS prisões são construídas com pedras da Lei, os Bordéis,com tijolos da Religião.
O orgulho do pavão é a glória de Deus.
A luxúria do bode é o prêmio de Deus.
A ira do leão é a sabedoria de Deus.
A nudez da mulher é o trabalho de Deus.
Excesso de tristeza ri. Excesso de alegria chora.
O rugir dos leões, o uivar dos lobos, a Riria do mar tempestuoso e a espada destrutiva são porções de eternidade grandes demais para o olho do homem.
A raposa condena a armadilha, nunca a si mesma.
A alegria fecunda. A tristeza produz.
Deixe o homem vestir a pele do leão, a mulher, a lã da ovelha.
O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.
O sorridente tolo egoísta e o carrancudo tolo mal-humorado devem ser julgados sábios, e podem ser um flagelo.
O que agora está provado já havia sido imaginado.
O rato, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes,o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos.
A cisterna contém; a fonte transborda.
Um pensamento preenche a imensidão.
Sempre esteja pronto para narrar sua mente, e um homem humilde o evitará.
Tudo o que é possível de ser imaginado é uma imagem da verdade.
A águia nunca perde tanto tempo como quando se submete a tomar lições do corvo.
A raposa provê a si mesma; mas Deus provê o leão. Pense de manhã. Aja à tarde. Coma ao anoitecer. Durma à noite. Aquele que sofreu, você impõe que o conheça. Assim como o arado segue palavras, Deus recompensa as orações. Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução. Espere veneno da água parada.
Você nunca sabe o que é o bastante até que saiba o que é mais que o bastante.
Ouça os tolos reprovar! E um elogio de reis!
Os olhos de logo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra. O fraco de coragem é forte em esperteza. A macieira nunca pergunta à faia como deve crescer; nem o leão, ao cavalo, como deve apanhar sua presa. O receptor agradecido traz uma colheita abundante. Se os outros não fossem tolos, nós o seríamos. A alma do doce deleite nunca pode ser poluída. Quando vês uma Águia, vês uma parte do Gênio. Ergue tua cabeça! Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para colocar seus ovos, assim o sacerdote coloca sua maldição nas mais belas alegrias. Criar uma florzinha é labor de eras. A maldição distende: a bênção relaxa. O melhor
vinho é o mais velho, a melhor água a mais nova. As orações não aram! Os elogios não colhem! A alegria não ri! A tristeza não chora!

Úm ótimo livro. Leiam e reflitam!

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