quarta-feira, 31 de maio de 2017

A alma e o cárcere corpo.


A alma e o cárcere corpo.
Naquela noite, uma alma foi se fartar em um banquete.
Então de antemão, pegou o coração de seu cárcere corpo, como se fosse um cálice para se fartar! Diante da mesa do destino, se serviu de tudo que ela lhe oferecia: tristezas, amores, ódios, vinganças e desilusões! Parecia ansiosa para saber por tudo o que nela poderia ocorrer, sem se esquecer de que seus excessos também fariam o pobre cárcere corpo pagar pela penúria após o banquete!
Chegando a mesa havia um grande jarro dourado e nele havia coragem! Com o coração do cárcere corpo pronto, se fartou de bravura! Começou devagar, mas logo percebeu que aquela dose de audácia era de fato, no mínimo inspiradora! E então, resolveu se embriagar! Parecia que quanto mais coragem tomava, mais forte ficava! Porém, quando observou seu pobre cárcere corpo, percebeu que ele, não tinha absolutamente nenhum senso do que fazia, de tanto se embriagar de coragem, não observava seus atos e agia pelo simples e puro instinto! Além do que era servido pela mesa do destino, surgiam também certos “acompanhamentos”! No caso da coragem, às vezes aparecia um pouco de sorte! A alma não podia simplesmente degustar da sorte, ela lhe era conferida pela mesa do destino. Ela percebeu que de fato, a sorte é aliada da coragem! Mas com o excesso de coragem a alma começou a se ferir, pois o cárcere corpo era imprudente tomando apenas coragem!
No banquete do destino havia muito a se experimentar! Havia um pote não muito grande. No seu conteúdo havia razão! Pegou o coração e resolveu tomar uma dose de razão! A partir do primeiro gole da alma, observou que o cárcere corpo, começara a aprender a ponderar! Então tomou o coração do cárcere corpo e encheu de razão! Eis que o cárcere corpo começou a se sentir indiferente em seu mundo. A alma percebeu que o excesso de razão não lhe fazia bem, pois pelos olhos do cárcere corpo, via e principalmente sentia apenas uma visão dura do cárcere corpo! O excesso de razão fazia a pobre alma se tornar “áspera”! E novamente a alma se feria!
Munida de farta coragem e muita razão a alma continuou a desfrutar do banquete do destino. Percebeu que nesse período o cárcere corpo parecia desfrutar de uma grande força diante da mesa do destino. Foi quando viu um jarro imponente e nele havia ambição! Logo a alma se serviu! Pegou o coração do cárcere corpo e o fez transbordar de ambição! Agora a alma sentia que a coragem, a razão e a ambição haviam lhe regado por inteira! O cárcere corpo aspirava e sentia toda pretensão de glórias, honras e riquezas!  Ainda assim, quando pelos olhos do cárcere corpo, a alma olhava, percebia que apesar de tudo aquilo que ele obtivera através de coragem, sagacidade e ambição, não parecia saciado e mais ele desejava! E novamente a alma se feria!
Pela mesa do destino, a alma se fartou de todos os sentimentos que encontrava e ainda assim quando pelos olhos do cárcere corpo ela observa, parecia que não havia um horizonte e sim um imenso e eterno vazio. Além disso, a mesa do destino continuava deixar “acompanhamentos” durante o banquete, esses nunca podiam ser ignorados e muito menos escolhidos! Tornou-se comum ao pobre corpo cárcere degustar da tristeza, fraqueza, desilusão e todo tipo de dificuldade existente.
Foi então que durante o banquete do destino, em meio ao vazio que se encontrava, a alma sentia que o pobre cárcere corpo, se sustentava em sentimentos que não lhe agregavam força! E por sua vez ambos eram afetados: A alma e o cárcere corpo! Sabendo que logo a mesa do destino iria ser retirada, observou que havia algumas coisas que nunca haviam sido experimentadas. Em pote pequeno que não tinha uma aparência tão graciosa, se encontravam para se servir: a esperança e o amor. Logo pegou o coração do cárcere corpo e tomou uma pequena dose de esperança. Assim, a alma observou pelos olhos do cárcere corpo, que a esperança lhes alimentava! E logo tomou uma farta dose! Dessa vez a alma não se feriu, pelo contrário, sentiu força pela primeira vez! E o cárcere corpo também sentiu algo especial!
Tendo experimentado quase tudo o que o a mesa do destino lhe oferecia, então por último, tomou uma dose de amor! A alma percebeu o quão jogral ele ficara! Era doce e de fácil degustação esse tal amor, ao mesmo tempo parecia algo que não possuía sentido algum, ainda sim, naquele momento se embriagou o quanto pode de tal sentimento! Tomando amor, percebeu que muito do que fazia não parecia ter sentido e não se misturava bem com a razão! Ainda assim, com amor, tanto a alma quanto o cárcere corpo se sustentavam! Por sua vez, a alma parecia alcançar um valor que ultrapassava todos os sentimentos da mesa do destino.
No final do banquete, a alma que já deixaria seu cárcere corpo, viu que todos os sentimentos lhe alimentaram de alguma forma! E que a ponderação entre eles era um bom caminho. Entretanto, viu que o alimento diário que ela deveria ter experimentado durante todo o banquete da vida, eram a esperança e o amor!







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