A alma e o cárcere
corpo.
Naquela noite, uma
alma foi se fartar em um banquete.
Então de antemão,
pegou o coração de seu cárcere corpo, como se fosse um cálice para se fartar!
Diante da mesa do destino, se serviu de tudo que ela lhe oferecia: tristezas,
amores, ódios, vinganças e desilusões! Parecia ansiosa para saber por tudo o
que nela poderia ocorrer, sem se esquecer de que seus excessos também fariam o pobre
cárcere corpo pagar pela penúria após o banquete!
Chegando a mesa
havia um grande jarro dourado e nele havia coragem! Com o coração do cárcere
corpo pronto, se fartou de bravura! Começou devagar, mas logo percebeu que
aquela dose de audácia era de fato, no mínimo inspiradora! E então, resolveu se
embriagar! Parecia que quanto mais coragem tomava, mais forte ficava! Porém,
quando observou seu pobre cárcere corpo, percebeu que ele, não tinha absolutamente
nenhum senso do que fazia, de tanto se embriagar de coragem, não observava seus
atos e agia pelo simples e puro instinto! Além do que era servido pela mesa do
destino, surgiam também certos “acompanhamentos”! No caso da coragem, às vezes
aparecia um pouco de sorte! A alma não podia simplesmente degustar da sorte,
ela lhe era conferida pela mesa do destino. Ela percebeu que de fato, a sorte é
aliada da coragem! Mas com o excesso de coragem a alma começou a se ferir, pois
o cárcere corpo era imprudente tomando apenas coragem!
No banquete do
destino havia muito a se experimentar! Havia um pote não muito grande. No seu
conteúdo havia razão! Pegou o coração e resolveu tomar uma dose de razão! A
partir do primeiro gole da alma, observou que o cárcere corpo, começara a
aprender a ponderar! Então tomou o coração do cárcere corpo e encheu de razão!
Eis que o cárcere corpo começou a se sentir indiferente em seu mundo. A alma
percebeu que o excesso de razão não lhe fazia bem, pois pelos olhos do cárcere
corpo, via e principalmente sentia apenas uma visão dura do cárcere corpo! O
excesso de razão fazia a pobre alma se tornar “áspera”! E novamente a alma se
feria!
Munida de farta
coragem e muita razão a alma continuou a desfrutar do banquete do destino.
Percebeu que nesse período o cárcere corpo parecia desfrutar de uma grande
força diante da mesa do destino. Foi quando viu um jarro imponente e nele havia
ambição! Logo a alma se serviu! Pegou o coração do cárcere corpo e o fez transbordar
de ambição! Agora a alma sentia que a coragem, a razão e a ambição haviam lhe
regado por inteira! O cárcere corpo aspirava e sentia toda pretensão de
glórias, honras e riquezas! Ainda assim,
quando pelos olhos do cárcere corpo, a alma olhava, percebia que apesar de tudo
aquilo que ele obtivera através de coragem, sagacidade e ambição, não parecia
saciado e mais ele desejava! E novamente a alma se feria!
Pela mesa do
destino, a alma se fartou de todos os sentimentos que encontrava e ainda assim
quando pelos olhos do cárcere corpo ela observa, parecia que não havia um
horizonte e sim um imenso e eterno vazio. Além disso, a mesa do destino continuava
deixar “acompanhamentos” durante o banquete, esses nunca podiam ser ignorados e
muito menos escolhidos! Tornou-se comum ao pobre corpo cárcere degustar da tristeza,
fraqueza, desilusão e todo tipo de dificuldade existente.
Foi então
que durante o banquete do destino, em meio ao vazio que se encontrava, a alma
sentia que o pobre cárcere corpo, se sustentava em sentimentos que não lhe
agregavam força! E por sua vez ambos eram afetados: A alma e o cárcere corpo!
Sabendo que logo a mesa do destino iria ser retirada, observou que havia
algumas coisas que nunca haviam sido experimentadas. Em pote pequeno que não
tinha uma aparência tão graciosa, se encontravam para se servir: a esperança e
o amor. Logo pegou o coração do cárcere corpo e tomou uma pequena dose de
esperança. Assim, a alma observou pelos olhos do cárcere corpo, que a esperança
lhes alimentava! E logo tomou uma farta dose! Dessa vez a alma não se feriu,
pelo contrário, sentiu força pela primeira vez! E o cárcere corpo também sentiu
algo especial!
Tendo experimentado
quase tudo o que o a mesa do destino lhe oferecia, então por último, tomou uma
dose de amor! A alma percebeu o quão jogral ele ficara! Era doce e de fácil
degustação esse tal amor, ao mesmo tempo parecia algo que não possuía sentido
algum, ainda sim, naquele momento se embriagou o quanto pode de tal sentimento!
Tomando amor, percebeu que muito do que fazia não parecia ter sentido e não se
misturava bem com a razão! Ainda assim, com amor, tanto a alma quanto o cárcere
corpo se sustentavam! Por sua vez, a alma parecia alcançar um valor que
ultrapassava todos os sentimentos da mesa do destino.
No final do banquete,
a alma que já deixaria seu cárcere corpo, viu que todos os sentimentos lhe alimentaram
de alguma forma! E que a ponderação entre eles era um bom caminho. Entretanto,
viu que o alimento diário que ela deveria ter experimentado durante todo o
banquete da vida, eram a esperança e o amor!
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